Resenha Faca de Água: Livro de Paolo Bacigalupi

As pessoas só vivem realmente quando estão prestes a morrer – disse ele. – Antes disso, é um desperdício. Você não aprecia como é bom até estar realmente na merda.

Olá leitores do Sobre Livros! Sou fascinada por vislumbrar e explorar futuros imaginados, especialmente aqueles de cunho pós-apocalíptico, onde acredito que a verdadeira essência humana é revelada. Minha empolgação foi às alturas quando a Intrínseca anunciou (em meados de 2016) a publicação da obra de ficção científica “Faca de Água“, que além de nos conduzir a um futuro incerto, levanta questionamentos cruciais sobre a gestão da água potável.

O autor, Paolo Bacigalupi, já tem em sua bagagem cinco romances, uma novela e uma coletânea de contos, residindo no Colorado com a família.

A obra nos guia por três narrativas distintas, focadas nos personagens Angel, Lucy e Maria, com capítulos em terceira pessoa dedicados a cada um deles. A leitura é fluida, embora por vezes se embrenhe em descrições ambientais, um traço comum em muitas ficções científicas.

Você não julga as pessoas sob pressão, mas por aqueles poucos momentos em que tiveram sorte bastante para haver alguma escolha.

Resenha Faca de Água

Faca de Água - Paolo Bacigalupi

O livro abre-se acompanhando Angel, um “faca de água”. Resumidamente, seu trabalho consiste em fazer qualquer coisa para assegurar o direito sobre algum reservatório de água. Ênfase no fazer qualquer coisa, pois não há limites para ação desse mercenário. Para garantir que sua chefe, uma empresária voraz de Nevada, mantenha o controle dos reservatórios de água ele é capaz das maiores atrocidades.

Depois conhecemos Lucy, uma repórter premiadíssima. Ela mora na cidade de Phoenix, com seu cachorro Sunny. Há alguns anos ela se mudou para essa cidade com a intenção de vê-la implodir: a falta de água apagou o Texas e estava fazendo o mesmo com o Arizona. Mas depois de tantos anos seu envolvimento tornou-se pessoal, e agora ela tentava lutar contra o aniquilamento. E essa luta eclode no momento que Lucy reconhece o corpo de um amigo, assassinado brutalmente.

Também conhecemos a adolescente Maria, uma texana que acompanha a trilha da destruição. Saiu do Texas e viu sua mãe e pai morrerem, para acabar nas “favelas” de Phoenix, tendo como companhia sua amiga Sarah. Maria nos é apresentada ao tentar faturar algum dinheiro vendendo água: ela descobre que em alguns momentos do dia a bomba de água tem uma variação de preço, então ela consegue comprar alguns livros com o preço baixo. Maria sonha em ir morar em Las Vegas, onde existem mais oportunidades e água. E se puder fazer isso, sem acompanhar a amiga em seu trabalho vendendo o corpo, melhor.

Tudo é ruim até você encontrar algo pior.

Acompanhar os primeiros capítulos através de Angel é difícil, pois seu trabalho e sua falta de consciência nos impele a odiá-lo. Mas veja bem, esse ódio só dura no primeiro terço do livro. Depois de alguns episódios, Angel precisará agir para salvar a própria pele, mostrando então habilidades interessantes. O faca de água se torna uma espécie de Agente 007.

Lucy por sua vez me soou tediante… Nada que me fizesse desejar interromper a leitura, mas sua forma de enxergar o mundo foi enfadonho. Agora a Maria… Emocionante! Uma personagem muito bem construída e imprevisível. Se a Maria está em cena, segura o coração porque vem episódios eletrizantes!

– Se ele era tão esperto, deveria ter visto no que estava se metendo. Talvez ainda estivesse vivo.

– Há diferentes tipos de esperteza.

– Espertos vivos e espertos mortos.

Como vocês devem imaginar, as três histórias se entrelaçam em algum momento, e foi surpreendente a forma como o autor fez isso. A história é muito bem entrelaçada, sem falhas de construção. De maneira alguma eu imaginei como as coisas iriam se desenrolar e foi maravilhoso ler uma ficção científica que seu universo foi muito bem criado, mas foi o desenvolvimento das personagens o destaque central. Acho terrível quando leio histórias que focam tanto na ambientação, que esquecem que são os personagens que garantem uma grande história.

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A edição da editora Intrínseca está excelente, com pouquíssimos erros de revisão. Todas as primeiras páginas dos capítulos foram impressas em preto com as letras na cor branca, e apesar de gostar do efeito, não ajuda na leitura (astigmatismo mandou um abraço). Eu não acho a capa e título chamativos, se eu não tivesse lido a sinopse, com certeza teria ignorado o livro em uma prateleira.

Recomendo a leitura para todos aqueles que adoram ficção científica. Para aqueles que gostam de uma história que acompanha uma investigação. Para aqueles que gostam de cenários pós-apocalípticos. Boa leitura!

P.S.: Tem cenas hot!

#MelhorElesDoQueNós

Laila Ribeiro

Laila Ribeiro publica resenhas literárias desde 2010. Publicou seu primeiro conto de fantasia em 2011. É mestra em Escrita Criativa e foi monitora da Oficina de Criação Literária do Assis Brasil. Em 2018, teve um filho. E em 2023 descobriu que é autista.

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